terça-feira, 4 de setembro de 2007

|26| Soneto


( Foto: Fima Gelman)

Lábios que encontram outros lábios
num meio de caminho, como peregrinos
interrompendo a devoção, nem pobres
nem sábios numa embriaguez sem vinho

que silêncio os entontece quando
de súbito se tocam e, cegos ainda,
procuram a saída que o olhar esquece
num murmúrio de vagos segredos?

É de tarde, na melancolia turva
dos poentes, ouvindo um tocar de sinos
escorrer sob o azul dos céus quentes,

que essa imagem desce de agosto, ou
setembro, e se enrola sem desgosto
no chão obscuro desse amor que lembro.

Nuno Júdice

2 comentários:

RIC disse...

A foto é muito intensa (para dizer uma banalidade...), sobretudo pela ideia de movimento dada por estar desfocada.
O soneto é uma pérola! Desconhecia-o. Bela escolha!
Beijinho! :-)

Shadow disse...

Olá Ric!

Ainda bem que gostaste :-) Ultimamente ando «na onda» Nuno Júdice e tenho sido agradavelmnete surpreendida. Aliás, este soneto é prova disso mesmo.

Beijinho :-)